Família
Quando é que os avós fazem bem aos netos?
A relação entre avós e netos é positiva quando é um prazer para ambas as partes e, sobretudo, quando a mente saudável é um ponto a favor dessa convivência.

 
Se colocássemos a questão ao contrário, teríamos de assumir que, quando os avós não estão bem mentalmente, não são uma boa companhia para os netos, isto porque para além de não terem a paciência que se pretende, acabam por transmitir um conjunto de memórias negativas que prejudicam os mais novos em fase de desenvolvimento.
 
A depressão e um conjunto de doenças que afetam a mente e as emoções do sujeito em qualquer idade, mas que são muito vincadas em períodos mais avançados de vida, são um condicionalismo ao contacto regular entre avós e netos. Pelo contrário, a ciência aprova e comprova que, quando os avós estão de boa saúde mental, são uma excelente referência para os seus netos.
 
Uma nova pesquisa sobre o assunto foi realizada pela Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos. Os cientistas elaboraram uma hipótese de que os avós com a mente saudável aumentam as possibilidades de sobrevivência dos filhos dos seus filhos porque são capazes de transmitir-lhes conhecimentos e habilidades. Os investigadores conseguiram demonstrar que, existem inclusive benefícios para os avós no que respeita à prevenção de doenças neurodegenerativas.
 
Segundo os cientistas, as pessoas que têm esses genes mais desenvolvidos vivem mais (porque estão protegidas contra as doenças neurodegenerativas) e, consequentemente, conseguem colaborar mais com a criação dos netos, pois estão saudáveis.
 
“O fato de os avós já não terem filhos pequenos para cuidar permite que tenham tempo e condições para ajudar nos cuidados com os netos, contribuindo para a sobrevivência das novas gerações, além de lhes passar conhecimentos e sabedoria. No entanto, os avós deixam de ter essa utilidade se apresentarem doenças como o Alzheimer. Assim, parece que as variantes de genes que protegem contra a demência estão selecionadas nos seres humanos”, explica o médico Ajit Varki, que conduziu o estudo.
 
Um outro trabalho de investigação do Boston College, nos Estados Unidos, comprova um conjunto de benefícios para ambas as partes. Durante 19 anos foram estudados 374 avós e 356 netos. O objetivo era entender a influência dessa convivência, tanto na vida das crianças. como na dos idosos.
 
Os resultados revelam que os dois lados beneficiam desse relacionamento. Para os avós, a conexão permite contacto com uma geração muito mais novas e, consequentemente, uma abertura a novas ideias e saberes. Ao mesmo tempo, os idosos oferecem a sabedoria adquirida durante a vida – e esse conhecimento acaba por ser incorporado pelas crianças quando elas se tornam adultas.
 
Os avós também costumam passar às novas gerações muitas histórias sobre o passado, o que é enriquecedor para qualquer criança. Além de tudo isso, os pesquisadores também concluíram que a relação avós-netos pode ajudar a diminuir sintomas depressivos em ambas as partes.
 
“A convivência é muito benéfica para ambos, especialmente porque os avós estão, na maioria das vezes, numa etapa da vida em que podem aproveitar os netos melhor do que aproveitaram os próprios filhos: passear e brincar e realizarem em conjunto atividades por prazer, não por obrigação”, sustentam os mesmos especialistas.
 
A psicóloga Rita Calegari, do Hospital São Camilo realça que, alguns avós participam de forma ativa nos cuidados enquanto os pais trabalham e, nesses casos, a história tem uma certa diferença. “Esses avós precisam de ser mais disciplinados com horários e regras – o que tira boa parte da diversão. Os mais velhos precisam de tempo para si, para estarem com outras pessoas e não somente dedicados aos netos, o que acaba por ser prejudicial para ambas as partes”.
 
O benefício ocorre em momentos pontuais, não por sistema como tem vindo a acontecer na nossa sociedade, explicita a mesma especialista.
 
A troca de saberes geracional é importante quando é um prazer para ambos e durante alguns momentos por semana, por mês ou de vez em quando, não de forma diária, intensa e exaustiva como muitas vezes acontece.
 
Perante estes trabalhos, verifica-se que, os pais não se podem demitir da sua função e ainda menos sobrecarregar os mais velhos com as crianças, já que nesses casos, o fator positivo cai por terra. O que o estudo demonstra é que, é saudável que os netos e os avós convivam de vez em quando e, em casos em que a saúde mental lhes permite participar nessa troca de saberes.
 
Avós desgastados não são boa companhia para as exigências dos mais novos, muito menos são um contributo positivo quando estão de mal com a sua vida e consigo mesmos, afirmam os especialistas.
 
É obrigação dos pais saberem quando é que os seus filhos podem e devem estar mais tempo com os avós, já que, não sendo por mal, nem sempre essa convivência prolongada é positiva. O bom senso, o tato e a capacidade de ver a realidade de fora, também atendendo à idade da criança são fundamentais para tornar esta relação saudável.
 
Fátima Fernandes