Comportamentos

«Quanto menos sabemos, mais inteligentes pensamos que somos»

 
É frequente que, as pessoas com menos conhecimentos tenham mais certezas do que aquelas que estudam e que teoricamente sabem mais. Mas afinal a quê que se deve esta realidade?

Na posição dos especialistas na área da psicologia citados pela revista: A Mente é Maravilhosa, «o fenómeno que faz com que pessoas com menos habilidades pensem que são mais inteligentes é chamado de “efeito Dunning-Kruger” e foi descrito pelos cientistas da Universidade Cornell (Nova York, EUA), Justin Krugger e David Dunning».
 
De acordo com a mesma fonte, estes investigadores realizaram um estudo para demonstrar como é que as pessoas com pouco conhecimento tendem sistematicamente a pensar que sabem muito mais do que sabem e a considerarem-se mais inteligentes do que outras pessoas mais preparadas.
 
Para realizar o estudo, estes cientistas envolveram os alunos da Cornell University e avaliaram diversos aspetos como o humor, o raciocínio lógico e a gramática. Inicialmente foi pedido aos comediantes profissionais que avaliassem a graça de trinta piadas e depois foi pedido a um grupo de estudantes que fizesse a mesma avaliação. Como era de se esperar, a maioria pensava que as suas habilidades para julgar o que era engraçado estavam acima da média.
 
Após o estudo do humor, foi realizado um trabalho de investigação sobre lógica e gramática e os resultados foram os mesmos: as pessoas que obtiveram os piores resultados foram aquelas que pensaram ter o melhor conceito de si mesmas e se consideraram as mais inteligentes.
 
O estudo foi publicado em dezembro de 1999 no The Journal of Personality and Social Psychology e, os resultados foram os seguintes:
 
1. Indivíduos incompetentes tendem a superestimar a sua própria capacidade.
2. Indivíduos incompetentes são incapazes de reconhecer a habilidade dos outros.
3. Os indivíduos incompetentes são incapazes de reconhecer a sua extrema incompetência.
4. Se puderem ser treinados para melhorarem substancialmente o seu próprio nível de habilidade, estes indivíduos podem reconhecer e aceitar a sua falta de habilidade anterior.
 
Refere a mesma publicação que, o efeito Dunning-Kruger: «ocorre devido a uma perceção irrealista, porque as habilidades necessárias para fazer algo bem são precisamente as habilidades necessárias para saber como estou a fazer isso». Por exemplo, se o meu nível de ortografia for muito baixo, a única maneira que tenho de descobrir esse facto é através do conhecimento das regras de ortografia. Assim, com o passar do tempo e o estudo da ortografia, é possível conhecer os erros. Nestes casos também há um déficit duplo, «pois não só sou incompetente com a ortografia, como não tenho as habilidades e conhecimentos necessários sobre ortografia». Como consequência disso, torna-se importante que a pessoa em causa se pergunte acerca das suas próprias habilidades antes de acreditar que sabe muito sobre o assunto.
 
Segundo os mesmos psicólogos, para que possamos melhorar as nossas habilidades num qualquer assunto ou área de vida, devemos ser autocríticos e recetivos às críticas e opiniões dos outros. «Muitas vezes supervalorizamos o nosso conhecimento e não damos ouvidos a outras pessoas que podem ter diferentes opiniões e habilidades com as quais podemos aprender e enriquecer-nos. Por outro lado, devemos estar atentos à nossa forma de tomar decisões e perguntar-nos em que bases nos suportamos para tirar determinadas conclusões. Será que me baseio na intuição, no conhecimento que não tenho, nas minhas opiniões? É fundamental que estejamos conscientes disso «porque podemos estar a supervalorizar os nossos conhecimentos e habilidades».
 
Desde logo, vale a pena registar que, segundo Bertrand Russell, «Grande parte das dificuldades que o mundo atravessa devem-se ao facto de os ignorantes estarem completamente seguros e, os inteligentes cheios de dúvidas».
 
Em qualquer caso, o efeito Dunning-Kruger nada mais é do que uma afirmação da famosa frase de Charles Darwin: “A ignorância gera mais confiança do que conhecimento.” Neste sentido, precisamos de fazer uma reflexão: Ignoramos a nossa própria ignorância?
 
Fátima Fernandes