A monstruosidade de Pantagruel, personagem central da pentalogia de Rabelais, do século XVI, deu mote à peça “O livro de Pantagruel”, com texto e encenação de Ricardo Neves-Neves, a estrear-se na quinta-feira no Teatro S. Luiz, em Lisboa.
"A monstruosidade, os exageros, a forma agreste e brutesca” de Rabelais ser cómico nos cinco livros de aventuras dos gigantes Gargântua e seu filho Pantagruel, a par do conto “Hänsel e Gretel” estiveram na base da peça que agora se estreia no Teatro S. Luiz, com música composta por Filipe Raposo.
“Ele comia tudo incluindo pessoas, portanto aquela criatura foi a primeira inspiração” para a peça, disse Ricardo Neves-Neves, que volta assim a juntar-se ao pianista e compositor Filipe Raposo – depois de juntos terem jeito “Banda sonora” e “A reconquista de Olivença”-, bem como à Orquestra Metropolitana de Lisboa.
A peça acaba também, “como era inevitável”, por se cruzar com a “Bíblia” da culinária portuguesa que há gerações continua a ter lugar nas montras das livrarias e a ser utilizada na cozinha em Portugal, acrescentou Ricardo Neves-Neves, numa alusão à obra de culinária de Berta Rosa-Limpo, Jorge Brum do Canto e Maria Manuela Caetano, que dá título à peça.
Por isso, “O livro de Pantagruel” anda à volta da “noção de culinária, da noção daquele grotesco alarve de Rabelais, daquela forma de fazer comédia amarga e deselegante”, acrescentou Ricardo Neves-Neves, no final de um ensaio de imprensa.
Num palco dividido em três andares, onde estarão também os músicos, a penumbra preenche o espaço cénico. É visível uma bancada de culinária onde não faltam ingredientes para confecionar comida, nem dois embriões envoltos numa espiral de luminosidade.
O universo de “Sweeney Todd”, “Drácula”, “Frankenstein”, entre outros 'monstros', o canibalismo e a antropofagia estão também presentes na peça protagonizada por Sandra Faleiro, no papel de Pantagruel.
Há uma violência e uma agressividade que carrega para o palco muita da que transparece dos contos infantis, como “Hänsel e Gretel”, "duas personagens desta peça” e que, apesar de “à partida acharmos que tem um lado inocente e pueril, acaba sempre por haver alguém que mata ou come alguém”, acrescentou Ricardo Neves-Neves.
Um lobo, um lenhador, dois fetos, um Nosferatu estagiário de Pantagruel, um trio de mulheres e outra personagem feminina completam as personagens da peça a que não faltam jogos de sobrevivência nem receitas para a confeção de "marujos e moralistas".
A interpretar o espetáculo, em cena até 16 de julho na sala Luis Miguel Cintra, estão também Andreia Valles, António Ignês, Célia Teixeira, Diogo Fernandes, Eliana Lima, Inês Cotrim, Juliana Campos, Rafael Gomes, Rita Carolina Silva, Ruben Madureira e Sissi Martins.
No S. Luiz, o espetáculo terá sessões de quinta a sábado, às 20:00, e, ao domingo, às 17:30, apresentando-se depois no Cineteatro Louletano, em Loulé, nos próximos dias 22 e 23.
Lusa