Comportamentos

Riscos associados aos jogos de azar online

Foto|Freepik
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Se o vício do jogo já era um problema, este agravou-se nos últimos anos com o surgimento das plataformas online que lhe facilitam o acesso e que podem fazer perder a noção do dinheiro que se gasta.

Tendo por base alguns trabalhos de investigação levados a cabo sobre esta matéria, o vício do jogo online é um problema crescente e que tende a acentuar-se com a proliferação de plataformas na Internet.
 
Os jogadores compulsivos passam por sérias dificuldades em conseguir manter o vício, sendo as mais comuns a falência, as dívidas, o desemprego, a solidão devido ao abandono da família, problemas emocionais devido às muitas frustrações que o vício acarreta e o ingresso no mundo do crime que é, muitas vezes, a única forma de alimentar a atividade.
 
Por sua vez, os jogos online trouxeram a facilidade de acesso, a descrição e a comodidade de se poder jogar a partir de casa, o que no seu conjunto, dá lugar a que qualquer pessoa possa investir e, se não tiver cuidado, que se possa viciar, alertam os especialistas.
 
É ainda de chamar a atenção que, «a intensidade do impulso para jogar online e a capacidade de autocontrole diminuída pelas circunstâncias podem levar a problemas socioeconómicos, familiares e mentais naqueles que sofrem deste vício», reforçam os entendidos.
 
Segundo os cientistas, as pessoas que jogam compulsivamente online, dizem ter muita dificuldade em resistir, e que não sabem os riscos que correm. Relatam um desejo que aumenta progressivamente e cria uma tensão que só se consegue aliviar com mais e mais tentativas para ganhar. Em muitos casos, a pessoa não tem a noção do que já perdeu e, mesmo quando ganha, acaba por voltar a investir, já que, deixa de ser importante o retorno do dinheiro, mas sim o prazer de digitar e apostar.
 
É também um facto que, há pessoas que conseguem controlar-se, jogar de vez em quando e saber muito bem o que gastam e o que perdem. Nestes casos, os apostadores encaram o jogo online como uma brincadeira controlada e que até pode ser divertida. Em muitas situações, até conseguem ganhar algum dinheiro. Vão e voltam e não sentem necessidade de fazer apostas regulares. Há inclusive jogadores profissionais.
 
O problema são os casos patológicos «em que ocorre um transtorno aditivo caracterizado por um comportamento problemático persistente e recorrente de comportamentos de jogo que levam a prejuízo ou sofrimento significativo». Os entendidos acreditam que, esta condição ocorre como consequência da interação de fatores biológicos, psicológicos e sociais.
 
Estima-se que a prevalência de adultos com problemas patológicos de jogo se situe entre 1,1 e 1,6%. Esse distúrbio geralmente começa na adolescência ou no início da idade adulta, tornando-se patológico nos anos seguintes.
 
Registam ainda os entendidos que, os jogadores patológicos apresentam problemas psiquiátricos, sendo mais recorrentes os transtornos comórbidos comuns que incluem humor (20-55,6%), uso de substâncias (35-76,3%) e outros transtornos de controle dos impulsos, sendo que também têm sido observadas tentativas de suicídio.
 
Segundo a análise diagnóstica associada ao jogo patológico, as pessoas que têm este vício apresentam quatro ou mais dos seguintes critérios durante doze meses. De acordo com o Manual Diagnóstico de Saúde Mental, estes são os pontos a que deve estar atento/a:
 
•Precisa de apostar quantias crescentes de dinheiro para obter a emoção desejada;
 
•Fica nervoso ou irritado ao tentar reduzir ou parar de jogar;
 
•Já fez esforços repetidos para controlar, reduzir ou parar de jogar, mas sempre sem sucesso;
 
•A sua mente está frequentemente ocupada com jogos de azar;
 
•Costuma jogar quando se sente inquieto, desamparado, culpado, ansioso, deprimido;
 
•Depois de perder dinheiro no jogo, costuma voltar para tentar recuperá-lo;
 
•Mente para esconder o seu grau de envolvimento no jogo;
 
•Já prejudicou ou perdeu um relacionamento importante, emprego ou carreira académica por causa do jogo;
 
•Conta com os  outros para lhe darem dinheiro para aliviar a terrível situação financeira causada pelo jogo;
 
É ainda relevante evidenciar as razões pelas quais o jogo online acarreta mais riscos do que o presencial:
 
•As plataformas online fornecem discrição e facilidade de acesso;
 
•É muito fácil e conveniente ter acesso a esse tipo de plataformas, já que estas estão disponíveis em qualquer dispositivo e em qualquer lugar;
 
•Como o dinheiro não é observado fisicamente, perde-se a noção do que se gasta;
 
•Como o reforço ocorre ocasionalmente, o comportamento dura mais tempo, tornando o vício mais forte.
 
Com a introdução dos jogos online, conheceu-se uma mudança no tipo de perfil dos jogadores. No passado, era um homem entre 30 e 40 anos, cujo  objetivo era ganhar dinheiro ou recuperar o que perdia. Atualmente, os jogadores são jovens entre os 15 e os 35 anos que procuram estímulos que lhes permitam fugir à realidade dos estudos, da família ou dos problemas. No que diz respeito às mulheres, a idade de aparecimento é mais tardia, entre os 35 e os 40 anos, mas a sua progressão para a patologia é mais rápida (Castilla et al., 2013).
 
É ainda importante referir que, os jogadores compulsivos afetam muito negativamente a sua qualidade de vida e a dos que os rodeiam, sendo registado que, há casos de violência doméstica nessas famílias, problemas com a justiça devido a cenários de roubo, prostituição ou outros, sem esquecer que, existe uma tendência para que os filhos destes indivíduos sigam o mesmo comportamento compulsivo e patológico.
 
Como o jogador patológico, na maioria das vezes, não tem consciência da sua condição, tem de ser a família ou outras pessoas em seu redor a ajudá-lo. Nesse sentido, deve pedir apoio médico, no caso em concreto, um psiquiatra, e passar por uma profunda intervenção psicológica.
 
No processo, é essencial que a pessoa se aperceba da sua realidade, do que está a fazer à sua família, dos prejuízos que o jogo acarreta a vários níveis e que precisa mesmo de mudar de direção.
 
Fátima Fernandes