Tal acontece porque o agressor usa um conjunto de requisitos que fazem com que a vítima tenha muita dificuldade em se libertar dele e da situação. É criada uma situação de dependência de tal ordem que vítima e agressor parecem estar sempre ligados. Para inverter esta tendência, a vítima tem de compreender aquilo de que é alvo e ser devidamente acompanhada por profissionais. A Associação Portuguesa de Apoio à Vítima dispõe de técnicos com conhecimento vasto e específico à altura de ajudar estas pessoas que precisam urgentemente de se libertar deste ciclo. Para pedir ajuda é fundamental que a vítima compreenda que o ciclo se repete infinitas vezes e que não haverá o cumprimento de mudança comportamental prometida pelo agressor. É com essa tomada de consciência que a pessoa agredida pede apoio e se afasta definitivamente do agressor.
É pela enorme dificuldade que a vítima sente em se libertar da chantagem do agressor que promete sempre que vai mudar, que é preciso “meter a colher” quando se assiste a um cenário de violência, seja ele qual for, pois o padrão do agressor é sempre o mesmo, seja com a mulher, com os idosos ou com os filhos. É preciso que as pessoas em redor destes cenários também reajam para que se possa colocar um fim neste ciclo.
Para que não existam dúvidas de como o processo funciona, recorremos à APAV com vista a suportar a informação relativa ao Ciclo de Violência Doméstica.
Segundo esta associação de apoio à vítima, «a violência doméstica funciona como um sistema circular – o chamado Ciclo da Violência Doméstica – que apresenta, regra geral, três fases:
1. Aumento de tensão: as tensões acumuladas no quotidiano, as injúrias e as ameaças tecidas pelo agressor, criam, na vítima, uma sensação de perigo eminente.
2. Ataque violento: o agressor maltrata física e psicológicamente a vítima; estes maus-tratos tendem a escalar na sua frequência e intensidade.
3. Lua-de-mel: o agressor envolve agora a vítima de carinho e atenções, desculpando-se pelas agressões e prometendo mudar (nunca mais voltará a exercer violência)».
De acordo com a mesma fonte, «este ciclo caracteriza-se pela sua continuidade no tempo», isto é, «pela sua repetição sucessiva ao longo de meses ou anos», podendo ser cada vez menores as fases da tensão e de apaziguamento «e cada vez mais intensa a fase do ataque violento». Usualmente este padrão de interação termina onde antes começou. «Em situações limite, o culminar destes episódios poderá ser o homicídio», resume a APAV.
Fátima Fernandes