Sociedade

Ualg: jovem de etnia cigana estuda educação social

Ao abrigo do projecto Opré Chavalé que foi inventado para quebrar as barreiras que separam as comunidades ciganas do sistema de educação formal, um grupo de jovens conseguiu concretizar o sonho de prosseguir os estudos e ingressar no ensino superior.

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A Universidade do Algarve tem na sua vasta lista de alunos, Cátia Montes, a jovem cigana que não cruzou os braços, que enfrentou as barreiras culturais e familiares e ingressou no curso de Educação Social.
 
Sabendo do valioso contributo que essa formação lhe poderá dar, a jovem cigana não tem dúvidas de que, “estudar educação social é uma oportunidade para poder também ajudar outras pessoas da comunidade.”
 
O facto é inédito, já que no nosso país e na maioria dos estados europeus, não existem tais programas de apoio que facilitem a continuidade dos estudos para quem dispõe de menos recursos e, muitas vezes de menos acesso á informação e aos mecanismos de suporte.
 
Portugal já está a fazer a diferença: oito jovens de etnia cigana vão receber bolsas para prosseguir os estudos no ensino superior. 
 
O protocolo foi assinado no passado sábado em Lisboa entre a Associação Nómada e o Programa Escolhas, do Alto Comissariado para as Migrações, que lhes garante dinheiro para pagar as propinas e outras despesas escolares.
 
Segundo o Público, o projecto visa alterar um percurso de abandono escolar precoce, pelo que o Opré Chavalé se assume como uma oportunidade. 
 
Esta é uma iniciativa pioneira da Associação Letras Nómadas e da Plataforma Portuguesa dos Direitos das Mulheres, financiado pelo Programa Cidadania Activa, o Programa Escolhas e a Fundação Montepio. 
 
Cátia Montes é um grande exemplo desse esforço, pois abandonou os estudos no 9ºano e não conseguia vislumbrar a possibilidade de ingressar no ensino superior.
 
Aos 29 anos, vê uma nova oportunidade surgir no horizonte. 
 
Frequenta o curso de Educação Social na Universidade do Algarve após um longo trabalho junto da família e da própria comunidade. Os pais resistiram, mas acabaram por aceitar. Acha que tirar este curso pode ser útil não só para ela, mas também para a comunidade, explica a jovem ao Público.
 
O Opré Chavalé, que significa “Erguei-vos jovens”, foi inventado para quebrar as barreiras que separam as comunidades ciganas do sistema de educação formal. Arrancou há um ano e meio, com duas mediadoras culturais, nove rapazes e seis raparigas desejosos de entrar no ensino superior e de tirar um curso. Nunca antes, de forma direccionada, se tinha trabalhado esta área em Portugal.
 
Citado pelo mesmo jornal, Bruno Gonçalves, vice-presidente da Associação Letras Nómadas explica que “foi preciso trabalhar as famílias, no sentido de as fazer entender que as pessoas não deixam de ser ciganas se estudarem, que é importante encontrar alternativas ao comércio ambulante, que a educação pode abrir caminhos profissionais, trazer um futuro melhor para aqueles jovens e para as suas famílias.”
 
Este projecto tem em vista colmatar as grandes dificuldades financeiras que as famílias atravessam e tenta responder também ao problema de atribuição de bolsas de estudo que nem sempre é um processo acessível a estes jovens, pois "Basta que na família haja uma dívida ao fisco – por exemplo, um imposto de selo – para que um estudante fique excluído", clarifica aquele mediador cultural. Daí a importância das bolsas agora atribuídas. O objectivo é apoiar o esforço destes jovens, que, "quebrando estereótipos e ultrapassando desafios sociais, entraram no ensino superior", realça Bruno Gonçalves ao Público.