Curiosidades

Uma semana sem o smartphone: o que fariam os jovens?

 
Esta é a questão que um grupo de cientistas da Universidade de Málaga, em colaboração com a Universidade de Madrid e a Universidade Miguel Hernández de Elche colocou a um grupo de voluntários.

Os especialistas tentaram saber como é que os jovens dos 15 aos 24 anos conseguiriam viver sem o smartphone durante uma semana.
 
Tratou-se de uma investigação pioneira na Europa e que envolveu 97 voluntários, sendo que, o objetivo central era conhecer o real impacto dos smartphones na população mais jovem.
 
Na prática, os cientistas realizaram um acompanhamento do grupo ao longo de três semanas. Na primeira semana, os jovens podiam usar o smartphone durante o tempo que quisessem. Na segunda semana, os voluntários ficaram completamente desconectados das tecnologias. Na última parte do estudo, os participantes já podiam usar os seus equipamentos sem restrições.
 
Com este trabalho de investigação, os cientistas queriam responder a algumas questões atuais e pertinentes. Um dos objetivos foi aumentar o nível de conscientização sobre as consequências do uso abusivo de smartphones. Outra, não menos importante, foi permitir que os jovens refletissem sobre as fontes que utilizam para obter informações. O TikTok, por exemplo, não é exatamente uma fonte confiável, afirmam.
 
Relativamente aos resultados, muitos jovens disseram estar mais ansiosos do que quando tentam deixar de fumar. Estar uma semana sem Internet fê-los disparar os níveis de ansiedade e de insegurança, na medida em que se sentiram privados de estar ligados aos demais, relatam.
 
De acordo com os cientistas, os jovens afirmaram ter sentido síndrome de abstinência. Alguns até explicaram que precisavam ter o smartphone por perto, mesmo sabendo que não tinham conexão.
 
O facto de se desligarem da tecnologia permitiu que se conectassem com a família e que tivessem mais tempo, foi também uma conclusão deste trabalho. Os jovens de ambos os sexos relataram que se vive melhor sem o smartphone, mas que é impossível estar sem ele.
 
Esta ideia é contraditória e até irónica, mas é um facto evidente que não só os mais jovens percebem. A população que conheceu o tempo em que não existia smartphone por exemplo, também não pode abrir mão dessa tecnologia, analisam os especialistas.
 
De modo resumido, os voluntários encontraram alguns benefícios em abdicarem do smartphone:
 
•Puderam passar mais tempo com a família. As discussões diminuíram, sobretudo porque a principal causa das mesmas era o uso abusivo do smartphone. Além disso, os jovens confidenciaram ter sido agradável passar mais tempo com os pais e a participarem mais ativamente no ambiente familiar.
 
•Apresentaram mais rendimento académico porque estavam mais concentrados nas matérias e sem as notificações a retirarem-lhes a atenção.
 
•Sentiram-se mais relaxados e predispostos até para a leitura de um bom livro.
 
•Os jovens admitiram que esse tempo de abstinência permitiu-lhes perceber a sua dependência dos smartphones e não só, assumiram o quanto esses equipamentos tecnológicos lhes condicionam a vida aos vários níveis, já que apresentam menos predisposição para uma série de tarefas.
 
Encontrados os benefícios de estar sem Internet, também é preciso considerar que, as relações sociais dos jovens ficariam comprometidas sem essa ligação, sem esquecer que, é através das redes sociais que este grupo etário se socializa, facto que lhes poderia causar muita ansiedade e desconforto por se sentirem limitados na ação e na convivência, nos compromissos e em tudo o que envolve as relações sociais.
 
Perante estes resultados, os cientistas alertam para a importância de usar as tecnologias, mas com conta, peso e medida e que, essa orientação deve começar desde muito cedo.
 
A idade recomendada para começar a usar o smartphone é de  16 anos, no entanto, as crianças de hoje começam a utilizá-los quase desde que chegam ao mundo. Aos 3, 4 e 5 anos já utilizam os aparelhos dos pais e aos 10 já pedem o primeiro smartphone, o que exige que os adultos tenham uma atitude firme e regras apertadas para a sua utilização.
 
Neste contexto, os especialistas recomendam que, tal como os ensinamos a ler, a atravessar uma passadeira, a vestirem-se ou a tomar banho, também temos de preparar os nossos filhos para um uso eficiente e adequado das novas tecnologias, sendo que, a base é o exemplo. Se os pais utilizam as tecnologias com moderação e de forma regrada, mais facilmente conseguem orientar os filhos nesse sentido, sublinham.
 
“A ideia é que sejam as crianças que, a partir de uma educação correta e uso inteligente da tecnologia, se autorregulem nesse uso. O mundo vai além de um ecrã, nem tudo o que aparece nos dispositivos é verdade e a vida pode ser incrivelmente enriquecedora se os dois mundos forem combinados: o real e o digital”, sugerem os mesmos entendidos.
 
Assim, devemos aprender a organizar melhor o nosso tempo e a escolher as fontes a que acedemos, sob pena de também não estarmos bem informados e alertas para a realidade. O ideal é que tenhamos de tudo um pouco, especialmente mais diversidade e qualidade, completam.
 
Para finalizar, é importante evidenciar que,  um estudo realizado na Universidade de Toronto, no Canadá, aferiu que, uma elevada percentagem de jovens apresenta níveis elevados de angústia mental devido ao uso abusivo dos smartphones, pelo que, é essencial encarar esta realidade ainda com mais seriedade e rigor.
 
Fátima Fernandes