As urgências do Algarve estão em situação limite devido à forte afluência de idosos residentes em lares ou que permanecem sozinhos em casa.
As elevadas temperaturas que se têm feito sentir, sobretudo durante a noite no Algarve, tem feito disparar o número de idosos que recorrem ás urgências com sinais de desidratação.
"A situação está a complicar-se". O Algarve é “ma região bipolar, com dois períodos de crise,o inverno [devido ao frio e à gripe], e o verão, quando a população duplica (passa de 700 mil para cerca de 1,5 milhões)" e o calor aperta. Apesar desta sazonalidade, o pessoal "não duplica" no verão. "Os profissionais são os mesmos e muitos estão a ficar envelhecidos e cansados. Há cirurgiões gerais à beira da exaustão. E por vezes torna-se muito complicado assegurar as escalas das urgências", esclarece Pedro Nunes em declarações ao Público.
Nesta altura do ano, o Algarve começa a rebentar pelas costuras devido ao calor que se tem feito sentir este mês, sobretudo por causa das elevadas temperaturas mínimas que habitualmente ultrapassam os 20 graus à noite. O plano de contingência para responder aos efeitos do calor na saúde já foi ativado, foram abertas camas suplementares e diminuídas cirurgias não urgentes, tudo para evitar que haja doentes em macas nas urgências, adianta o presidente do conselho de administração do Centro Hospitalar do Algarve, Pedro Nunes.
O mesmo responsável adiantou ao Público que “não é um calor tórrido mas as noites têm estado muito quentes sobretudo no sotavento algarvio. E são as temperaturas mínimas muito elevadas que contribuem para descompensar doenças dos idosos”
Ainda ao jornal Público, Pedro Nunes, dá conta de que as urgências estão já a sofrer “mesma pressão” que habitualmente sentem no inverno e "agosto ainda nem começou".
Salientando que, "A crise levou à emigração de muitas pessoas e faz com que haja cada vez mais idosos a viver sozinhos", Pedro Nunes avançou que, “por dia, a procura dos seis serviços de urgência tem superado habitualmente ‘as 900 pessoas’ quando, ‘os períodos de acalmia, o número ronda os 600 atendimentos diários’ compara o médico e administrador hospitalar.
Os internamentos também têm estado a aumentar. Se, no mesmo período do ano passado, a média diária de internamentos era 45, este ano ascende a 50, segundo dados fornecidos ao Público.
De acordo com os dados apresentados pelo administrador, a maior procura verifica-se na urgência do hospital de Faro, seguida da urgência do hospital de Portimão, mas os serviços de urgência básica de Albufeira, Loulé, Vila Real de Santo António e Lagos também têm contabilizado muitos atendimentos nos últimos dias.
Em Albufeira, por exemplo, desde 20 deste mês, a média diária de atendimento é de 145 doentes, quase tantos como os registados na urgência do hospital de Portimão. Os serviços de urgência de Albufeira e de Vila Real de Santo António foram, aliás, reforçados com um terceiro médico, revela ao mesmo jornal.
Para fazer face a esta realidade, “foram ativadas oito camas suplementares em Faro, mas há mais 22 preparadas para abrir, caso tal se revele necessário” especifica Pedro Nunes. O problema é que, para abrir camas, é necessário ter enfermeiros e médicos e o Algarve continua a ter grandes dificuldades para atrair profissionais de saúde para a região, lamenta o mesmo responsável.
Esta "não é uma solução de futuro", defende Pedro Nunes, que lembra que muitos concursos de recrutamento para o Algarve continuam a ficar “vazios” e que há médicos que se vão embora "para Lisboa, Porto e Coimbra, ou que emigram", na falta de incentivos já anunciados mas que tardam a concretizar-se, “situação está a aproximar-se do dramático, os profissionais estão cada vez mais cansados, vamos ver se conseguimos continuar a resistir. É preciso redistribuir os quadros médicos pelo país, com incentivos ou à força", reclama.
Esta semana, a Administração Central do Sistema de Saúde anunciou, em comunicado, que, desde o início do ano até ao passado dia 23, autorizou a contratação de 205 médicos e 1341 enfermeiros para os hospitais do setor empresarial do Serviço Nacional de Saúde em todo o país. Deste total, a região do Algarve foi a menos beneficiada no conjunto das cinco regiões de saúde portuguesas, recebeu apenas 4 médicos e 64 enfermeiros, o que não alivia o cenário exposto por Pedro Nunes.