Lesões por Esforço Repetitivo

Entende-se como Lesões por Esforço Repetitivo, com a sigla L.E.R., os movimentos repetitivos que estão associados ás tarefas quotidianas, em regra, resultantes das rotinas profissionais.

 
Esta abordagem já conhece algumas décadas, muito embora, nem a designação, nem a explicação tenha conhecido convergência por parte da comunidade científica, contudo, apesar das descrições divergentes, é unânime a constatação de que, a história do trabalho repetitivo está associada à origem do próprio trabalho, nas mais variadas profissões. 
 
Da agricultura, passando pela lavagem de roupa, pelo manuseamento de utensílios de vária espécie, os trabalhadores foram e vão descrevendo a repetição de movimentos como uma causa de limitação no tempo ou mesmo de incapacidade permanente, quer para o trabalho, quer para a realização das tarefas quotidianas mais elementares. 
 
A título de curiosidade, em 1713, foi feita uma abordagem relativamente aos trabalhos repetitivos das mãos, às posturas corporais contraídas e ao excessivo stress mental que muitas dessas atividades fazem desencadear. 
 
A perda da capacidade de realizar movimentos, é, pois um condicionalismo que interfere diretamente na condição social e psicológica do indivíduo, na medida em que degrada a qualidade de vida, a predisposição para o trabalho e o plano emocional pela situação de dependência que pode ocorrer temporária ou permanentemente. 
 
Consequências: 
 
Segundo os estudos apresentados por vários autores, as L.E.R., possuem um grau elevado de desagradação no indivíduo seja em termos físicos, seja enquanto auto-estima, humor, socialização e participação em atividades conjuntas pela perceção do limite e pela dificuldade em realizar certos movimentos. 
 
Estima-se que, cerca de 61,4% dos pacientes com L.E.R. desenvolvem incapacidade parcial permanente, enquanto que 38,6% apresentam incapacidade temporária. 
 
Nessa sequência são ainda de assinalar as insónias, o nervosismo, o mau-estar e a falta de motivação resultantes da dor, mas também do estado emocional do seu portador. 
 
No plano profissional, os trabalhadores que desenvolvem estas lesões acabam por reduzir substancialmente a sua produtividade, o que igualmente acarreta custos para as empresas. 
 
Descrição: 
 
A tenossinovite do polegar que passou a ser explicada e diagnosticada em pessoas com atividades repetitivas começou por ser analisada em tarefas como a lavagem repetitiva, o comércio de produtos, as atividades agrícolas, passando mais tarde para atividades de secretariado com utilização repetitiva dos dedos e das mãos. De um modo geral, as LER, são lesões resultantes de movimentos repetitivos. 
 
Causas: 
 
As LER são definidas como “doenças músculo-tendinosas dos membros superiores, ombros e pescoço, causadas pela sobrecarga de um grupo muscular particular, devido ao uso repetitivo ou pela manutenção de posturas contraídas, que resultem em dor, fadiga e declínio no desempenho profissional". Com as mesmas causas, mas descrita como "Síndrome Dolorosa nos Membros Superiores de Origem Ocupacional", por alguns cientistas considerarem que esta terminologia é mais específica e concreta. 
 
Grupos de risco: 
 
A tenossinovite tem sido diagnosticada essencialmente em secretárias, telefonistas, dactilógrafos devido à excessiva utilização dos membros superiores, no entanto, devido à visão mais alargada do trabalho repetitivo, esta dimensão tem sido estendida a todos os esforços repetitivos que, no tempo podem fazer desencadear lesões incapacitantes. 
 
Neste sentido, todos os grupos profissionais integram o risco desde que não exista uma correta adequação do trabalho, ao equipamento ergonómico em harmonia com o homem. 
Presentemente as LER estão inseridas nos casos de saúde pública e nas doenças profissionais. 
 
Origem das L.E.R.: 
 
São conhecidos alguns dados importantes que estão por detrás das Lesões por Esforço Repetitivo: 
 
- a exposição sistemática a movimentos repetitivos por demanda da tarefa; 
 
- as posturas incorretas; 
 
- o excesso de força; 
 
- a exposição ou permanência em baixas temperaturas; 
 
- as vibrações e fatores psicossociais geradores de stress, são condições que estão intimamente relacionadas com os distúrbios músculo-esqueléticos em grupos ocupacionais expostos a essas situações de trabalho. 
 
A repetição dos movimentos durante longos períodos de tempo, são também uma causa direta para o surgimento das L.E.R., a par da força exercida em atos como agarrar, apertar, transportar, entre outros. 
 
A má postura sentada ou erguida durante períodos prolongados também está sinalizado como uma causa para esta patologia. 
 
Curiosidades: 
 
Segundo Higgs & Mackinnon num estudo publicado em 1995, “a manutenção de posturas anormais são as principais causas das L.E.R. por provocarem desequilíbrio muscular e compressão dos nervos”. Os mesmos autores afirmam que, quando “certos grupos musculares são subutilizados, há indicação de que outros estão a sofrer uma sobrecarga, sendo que esta situação leva a um ciclo vicioso postural e do equilíbrio muscular”. Na mesma sequência percebe-se que, algumas posições fazem aumentar a pressão em redor do nervo ou o distendem, podendo conduzir a uma condição crónica de compressão. 
 
Lesões mais frequentes: 
 
As lesões no pescoço, que se entendem como síndrome tensional do pescoço e à síndrome cervical; 
 
- nos ombros está descrita a síndrome do desfiladeiro toráxico, a tendinite biciptal, a tendinite do supraespinhoso, a capsulite adesiva e a síndrome acrómio-clavicular; 
 
- no cotovelo, punho e mão é mais conhecida a epicondilite, a tenossinovite, a síndrome do túnel do carpo e a compressão do nervo ulnar. 
 
Diagnóstico: 
 
De acordo com Oliveira, num estudo publicado em 1991, “o quadro sintomatológico das L.E.R. é muitas vezes complexo e de difícil identificação, pois o paciente pode não apresentar nenhum sinal físico inicialmente, mas as suas queixas são persistentes e sempre relacionadas com a massa muscular envolvida em tensão estática, em decorrência de posição forçada ou viciosa ou mais utilizada no exercício da função”. 
 
Assim, para que se possa proceder ao diagnóstico, o médico ortopedista deverá avaliar a dor músculo-esquelética persistente e recorrente dentro de seis semanas, sem causa traumática imediata e influenciada por situação de trabalho, uma vez que o diagnóstico não é possível a partir de dados laboratoriais e sim a partir da correlação entre a dor e o exercício/esforço diário que o portador executa. 
 
Prevenir: 
 
O uso dos equipamentos de proteção, a alimentação adequada e com tempo para descomprimir, o tempo de intervalo a meio das atividades, o descanso após o trabalho, a ginástica laboral, o aproveitamento do tempo livre de uma forma descontraída e distinta da rotina, o cuidado em diversificar as tarefas ao longo do dia funcionam não só como prevenção de lesões nos membros do corpo, como também enquanto fator de motivação, de entusiasmo e de bem-estar para minimizar outros impactos negativos como o stress, a ansiedade, a sensação de pressão e medo de represálias no ambiente de trabalho. 
 
Como a melhor forma de tratamento é sempre a prevenção, é fundamental que todos os trabalhadores tenham em atenção a necessidade de conciliar o esforço com a descompressão e a adequação das melhores posturas profissionais. 
 
Tratamento: 
 
O tratamento das L.E.R. depende do estágio da doença, e quanto mais cedo for feito o diagnóstico e a intervenção, menos invasivo será o tratamento. 
 
Tendo em conta que esta doença é preocupante pois o tratamento dificilmente tem resultados em situações crónicas, é fundamental que o indivíduo esteja atento ás alterações e que evite o mais possível os movimentos repetitivos, pois após a micro lesão não intervencionada, certamente que nas fases seguintes o agravamento será muito superior, uma vez que é cumulativo. 
 
Depois importa ter em conta que, ao não se readequarem os hábitos diários, geralmente há uma reincidência da doença. 
 
Neste sentido, o plano de tratamento tem por base eliminar ou minimizar a intensidade dos fatores físicos que causaram ou agravam as L.E.R., pois uma vez eliminados, dão lugar ao processo natural de recuperação do organismo. 
 
O processo em regra é longo e requer uma redução da atividade do sujeito, muita persistência e aceitação do tratamento e das condições que lhe são inerentes. 
 
O tratamento envolve medicamentos combinados com uma terapia física. Quando estes métodos não apresentam resultados positivos, em regra passa-se para a aplicação de infiltrações ou cirurgia. 
 
Quando necessário, pode ocorrer a imobilização que é feita através do uso de splints ou talas que mantém as articulações em posição neutra, minimizando desse modo, o stress local e prevenindo traumas adicionais. O gelo pode ainda ser indicado tal como a inibição do contato com o calor. 
 
Ao mesmo tempo, podem ser utilizados outros métodos de tratamento fisioterápico, sendo que a finalidade será reduzir a dor, o edema e a inflamação, proporcionando assim uma situação em que se possa normalizar a força muscular e o retorno às atividades, quando possível. Quanto ao tratamento medicamentoso, este inclui a prescrição de drogas com potentes efeitos anti-inflamatórios. 
 
Este método de tratamento é importante porque não reduz somente a dor, como também minimiza a inflamação. 
 
Nota: Encare este artigo como meramente informativo e um despertar para um problema que é cada vez mais recorrente e que merece ser levado em conta. O médico ortopedista é o profissional de saúde mais indicado para fazer o acompanhamento e tratamento de uma lesão.
 
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