Economia

Moncarapacho:José e Sérgio Fernandes lutam por profissão perdida

 
 
 
Conhecido pelo “Corrieiro de Moncarapacho” (Concelho de Olhão), Sérgio Fernandes é o rosto da casa criada pelo seu pai há mais de 50 anos.

 
Albardeiro de profissão, José Caetano Fernandes, deu o mote para uma profissão que, no seu tempo, era muito rentável e reconhecida e que acabou por envolver a família. A mulher dedicava-se a bordar e a ornamentar os trabalhos realizados pelo marido e, no tempo de maior procura, a casa Fernandes e Fernandes tinha quatro e por vezes, cinco empregados para ajudarem na confeção  manual dos trabalhos.
 
O filho, Sérgio Fernandes, começou a ajudar o pai desde os tempos do ensino primário. “Saía da escola e vinha ajudar o meu pai. Como não tinha ainda robustez física para o trabalho que ele realizava enquanto albardeiro, comecei a trabalhar peças mais pequenas em pele e, acabei por seguir essa profissão de corrieiro”.
 
Em conjunto, acabavam por dar resposta às solicitações dos clientes e desenvolver um trabalho muito apreciado quer por nacionais, quer por estrangeiros.
 
José Fernandes recorda com saudade os tempos em que era apelidado pelo  albardeiro de Moncarapacho e em que recebia clientes de vários pontos do país interessadas em adquirir as suas peças. “Para mim, ainda hoje são verdadeiras peças de arte que confecionava com muito carinho e dedicação. Eu conhecia bem os clientes e eles sempre souberam que lhes vendia um produto de qualidade e que durava anos…”
 
Com a vantagem de também fazer a manutenção das peças vendidas, o albardeiro ganhava credibilidade e reconhecimento. “Era uma relação de proximidade com os clientes. Quando tinham um problema, sabiam que os ajudava a resolver”.
 
 
Compreendende a realidade atual, mas inconformado com o declínio que a sua atividade tem conhecido devido à substituição dos animais no trabalho agrícola e como meio de transporte, José Fernandes não acredita no futuro da profissão. “Isto está tudo em extinção, pois já hoje não dá para as despesas. Hoje fazemos alguns mercados aqui no Algarve e, não podemos fazer deslocações maiores senão temos prejuízo. Ainda conseguimos manter a porta aberta porque somos uma empresa familiar e porque não fazemos muitas contas, mas não sei por quanto tempo”.
 
A executar alguns “cabrestos” para vender por encomenda, Sérgio Fernandes diz lamentar “a concorrência com os trabalhos vindos de Espanha que, sendo mais baratos, são de menor qualidade, sem esquecer que o efeito não é o mesmo de um trabalho artesanal que esteticamente é mais bonito e duradouro”.
 
Aos 79 anos, o patriarca confessa-se desiludido com a queda na procura, uma vez que, “tudo mudou. Nos meus tempos de jovem, quando comecei a profissão de albardeiro, as pessoas deslocavam-se de burro, de cavalo, de mula, pelo que, o nosso trabalho artesanal era muito apreciado e valorizado, tanto no Algarve como no Alentejo. Fazíamos mercados e feiras em vários pontos do país e não dávamos resposta às encomendas.”
 
Recordando os tempos de grande afluência, José Fernandes confidenciou ao Algarve Primeiro que, “há vinte anos atrás, eu fazia uma peça e, em poucas horas, estava vendida. Os fregueses tinham de esperar duas ou três semanas para poderem adquirir uma albarda ou molins”.
 
Com a mudança dos tempos, o negócio está entregue ao filho, Sérgio Fernandes que, aos 49 anos, já contabiliza mais de trinta de dedicação à confeção de “cabrestos”, açaimes e outros artigos de couro que servem para apetrechar os animais.
 
Com a casa ainda composta com as albardas que faziam deslocar clientes ao seu estabelecimento, são as peças de couro as mais procuradas nos dias de hoje. “Os demais artigos tem pouca saída, ainda que tenhamos cavaleiros e, os poucos que ainda trabalham no campo, mas não se assemelha a outros tempos”.
 
Esta é a mensagem de quem renova diariamente a coragem para enfrentar um negócio que pouco mais alimenta que os sonhos e o brio de alguns clientes mais exigentes em apresentar um animal elegantemente equipado.