Arritmia cardíaca

 
Considerada como uma das principais causas de AVC (acidente vascular cerebral) e de problemas que podem apresentar alguma gravidade, a arritmia cardíaca merece algum detalhe na sua interpretação, sobretudo como forma de prevenir o seu agravamento e de inverter situações que podem ser potencialmente mortais.

 
Neste sentido, é fundamental entender o funcionamento do coração para melhor avaliar os riscos que poderemos estar a correr diariamente e procurar a ajuda de um cardiologista para fazer um acompanhamento sério quando existe algum problema. De referir que se trata de um problema silencioso e, muitas vezes sem sinais específicos. 
 
Breve descrição: 
 
Sendo o coração um órgão muscular desenhado em quatro cavidades com o intuito de funcionar de forma eficiente ao longo da vida humana, é natural que apresente algumas particularidades fundamentais, que garantem a expulsão do sangue na maior quantidade possível e com um menor esforço. 
 
O funcionamento deste processo decorre de forma precisa, uma vez que, 
as paredes musculares de cada cavidade se contraem numa sequência durante cada batimento. 
 
Assim, a contracção das fibras musculares do coração é controlada por uma descarga elétrica que percorre o coração seguindo diferentes trajetórias e a uma determinada velocidade. 
 
Por seu turno, a descarga rítmica que dá início a cada batimento tem origem no pacemaker fisiológico do coração (nódulo sino-auricular), que se situa na parede da aurícula direita. 
 
A velocidade destas descargas depende em parte dos impulsos nervosos e da quantidade de certas hormonas no sangue. 
 
As hormonas do sistema simpático (a adrenalina e a noradrenalina) aumentam a frequência cardíaca, tal como a hormona tiróidea. 
 
O excesso de hormona tiróidea faz com que o coração bata com demasiada rapidez, enquanto que o seu déficite dá lugar a um funcionamento demasiado lento. 
 
Em regra, a frequência cardíaca em repouso é de 60 a 100 batimentos por minuto, embora outros valores possam ser considerados como normais em pessoas com caraterísticas distintas, tudo depende da saúde e da condição física da pessoa observada. 
 
Contudo, há situações de alerta que merecem algum cuidado e uma observação detalhada por parte do médico especialista, uma vez que, podem não ocorrer sintomas de anormalidade percetíveis com a medição da tensão arterial e do ritmo cardíaco. 
 
Situações a que deverá estar atento: 
 
O aumento ou diminuição súbita do ritmo cardíaco pode constituir sinais de alerta e estar associado a diversas causas, entre muitas outras, a dor e as emoções. 
 
Quando o ritmo é inadequadamente rápido (taquicardia) ou lento (bradicardia), ou quando os impulsos elétricos seguem vias ou trajetos anómalos, considera-se que o coração tem um ritmo anormal ou uma arritmia. 
 
Os ritmos anormais podem ser regulares ou irregulares e requerem uma investigação mais detalhada para efetuar um diagnóstico preciso, já que cada caso é singular e merece uma avaliação individual. 
 
Na mesma sequência, é fundamental que o paciente coopere com o médico e que siga as suas recomendações aquando existe motivo para tal. O ato de falar abertamente com o especialista acerca do que se passa e sente, também é uma garantia de que se está a reduzir o risco, bem como a disponibilidade para realizar os exames necessários. 
 
Refira-se ainda que, em muitos casos, a situação resolve-se com muita facilidade, enquanto que noutros requer um pouco mais de persistência de acompanhamento, mas em ambas as situações, o paciente deve confiar no profissional de saúde e evitar a sensação de pânico que, em nada beneficia este tipo de tratamento. 
 
É fundamental ter em conta que, a grande maioria dos casos detetados e acompanhados precocemente não implicam limitações para o doente e que, apesar dos nomes causarem incómodo para quem recebe um diagnóstico cardíaco, a sua maioria são facilmente controláveis com a cooperação do paciente e constituem um risco reduzido de vida. 
 
O que é a arritmia cardíaca: 
 
O funcionamento do coração é constituído por impulsos elétricos do pacemaker que se dirigem, em primeiro lugar, para as aurículas direita e esquerda e, como consequência, provocam a contracção do tecido muscular numa determinada sequência que leva o sangue a ser expulso das aurículas para os ventrículos. 
 
Num segundo momento, o impulso eléctrico chega até ao nódulo auriculoventricular situado entre as aurículas e os ventrículos. É este nódulo que retém as descargas elétricas e retarda a sua transmissão para permitir que as aurículas se contraiam por completo e que os ventrículos se encham com a maior quantidade de sangue possível durante a diástole ventricular. 
 
Após a passagem pelo nódulo auriculoventricular, o impulso elétrico chega ao feixe de His, (um grupo de fibras que se dividem num ramo esquerdo para o ventrículo esquerdo e um ramo direito para o ventrículo direito). 
 
Assim, o impulso distribui-se de maneira ordenada sobre a superfície dos ventrículos e inicia a sua contracção que se designa de sístole, processo durante o qual o sangue é expulso do coração. 
 
São as diversas anomalias neste processo que dão lugar a arritmias que podem ser inofensivas ou atingir alguma gravidade, tudo depende da sua causa e do acompanhamento que lhe é dado. Refira-se que uma causa de arritmia pode dar azo a outros tipos de arritmias. 
 
Algumas causas de arritmias: 
 
Algumas arritmias mais ligeiras podem ser uma consequência do consumo excessivo de álcool, de tabaco, pelas situações de stress ou pelo exercício físico pouco adequado à condição física do sujeito. 
 
Também a hiperatividade ou o baixo rendimento da tiróide e alguns fármacos, especialmente os utilizados para o tratamento das doenças pulmonares e da hipertensão, podem alterar a frequência e o ritmo cardíacos. 
 
Geralmente a causa mais frequente das arritmias é a doença cardíaca, mais concretamente a doença das artérias coronárias, bem como o mau funcionamento das válvulas e a insuficiência cardíaca. 
 
No entanto, há situações em que a arritmia surge sem uma causa aparente e, como tal requer um estudo e uma tentativa de interpretação. 
 
Sintomas: 
 
Entendem-se como primeiros sinais de que algo poderá não estar a funcionar corretamente com o coração aquando o sujeito sente palpitações que, variam de pessoa para pessoa, uma vez que há quem tenha em conta os batimentos regulares e quem detete os irregulares, o que nem sempre apresenta gravidade, mas deve ser averiguado. 
 
Verificar a frequência da arritmia pode facilitar o estudo e avaliação, uma vez que esta pode ser pontual ou muito recorrente. 
 
Em regra, muitos tipos de arritmia não apresentam sintomatologia, ainda que possam causar problemas. 
 
O mais importante a ter em conta é a causa da arritmia para que se possa desenvolver o tratamento quando este é necessário. 
Existem situações em que a arritmia dá sinais como enjoos, vertigem e desmaio, sendo que estas arritmias requerem atenção imediata. 
 
Diagnóstico: 
 
É a partir da descrição dos sintomas que, o especialista faz o diagnóstico geralmente com facilidade e rapidez. 
 
Contudo, existem pormenores que, por vezes podem exigir estudos mais detalhados como por exemplo averiguar se os batimentos são rápidos ou lentos, regulares ou irregulares, curtos ou prolongados, se surgem vertigens, enjoos ou enfraquecimento e inclusive perda de consciência e se as palpitações se associam a dor toráxica, sufocação e outras sensações incómodas. 
 
O médico também necessita de saber se as palpitações se manifestam quando o doente está em repouso ou durante uma atividade pouco habitual ou enérgica e, além disso, se começam e acabam de maneira repentina ou gradual. 
 
Para além deste tipo de informação, é necessário realizar alguns exames complementares de diagnóstico para detetar com exatidão a origem da doença. 
 
O electrocardiograma é o principal meio de diagnóstico para detetar arritmias, já que apresenta uma representação gráfica das mesmas. 
 
Quando é necessário avaliar a frequência das arritmias, é recomendado o Holter que consiste num aparelho portátil que o doente transporta durante 24 horas e pode fornecer mais informação, uma vez que o aparelho regista o funcionamento cardíaco durante todas as atividades do sujeito num período longo de tempo. 
 
No caso de se perceber que a arritmia pode ser potencialmente mortal, é necessária a hospitalização para se proceder à monitorização dos batimentos cardíacos num período mais alargado de tempo e com vigilância permanente. 
 
Nestes casos, os estudos electrofisiológicos invasivos podem constituir um diagnóstico através da introdução, por via endovenosa até ao coração, de um cateter que contém alguns fios metálicos. Utilizando de forma combinada o estímulo elétrico e uma monitorização sofisticada, pode determinar-se o tipo de arritmia e a resposta mais provável de tratamento. 
 
Prognóstico e tratamento: 
 
É fundamental entender que, o prognóstico depende do tipo de arritmia, já que o local onde se inicia a arritmia determina a facilidade de se fazer um prognóstico. É importante ter em conta que, geralmente as arritmias não provocam sintomas nem interferem na função de bombeamento do coração, pelo que os riscos são mínimos. 
 
No entanto, as arritmias são fonte de ansiedade quando a pessoa se apercebe delas, pelo que compreender o seu caráter inofensivo pode servir de alívio. Existem situações simples que motivam o aparecimento de arritmias e que devem ser esclarecidas ao paciente para evitar preocupação excessiva. 
 
A mudança de medicamentos, a interrupção repentina do consumo excessivo de álcool ou de tabaco pode causar alterações no batimento cardíaco, tal como a mudança de atividade ou de exercícios físicos, pelo que, após uma fase de estabilização, as arritmias podem reduzir a sua incidência ou mesmo cessar. 
 
Ainda assim, a administração de fármacos contra as arritmias é muito útil no caso de sintomas intoleráveis ou quando podem constituir um risco. Não existe um único fármaco que cure todas as arritmias em todas as pessoas, pelo que, geralmente é preciso experimentar vários tratamentos até se encontrar um que seja satisfatório. 
 
Os fármacos antiarrítmicos podem, além disso, produzir efeitos colaterais e piorar ou inclusive provocar arritmias, pelo que merecem também alguma vigilância médica durante um determinado período de tempo considerado suficiente para fazer o ajuste. 
 
Ao mesmo tempo, os pacemakers artificiais que consistem em dispositivos eletrónicos que atuam em vez do pacemaker natural, programam-se para imitar a sequência normal do coração e são implantados cirurgicamente sob a pele do peito e possuem cabos que chegam até ao coração. 
 
Contrariamente aos muitos condicionalismos do passado, atualmente estes aparelhos possuem um circuito de baixa energia e, com o novo desenho de baterias, estas unidades têm uma duração de entre 8 e 10 anos. 
 
Refira-se que, estes novos circuitos eliminaram quase por completo o risco de interferências com os distribuidores dos automóveis, os radares, os microondas e os detetores de segurança dos aeroportos. 
 
O pacemaker é utilizado para o tratamento de uma frequência cardíaca demasiado lenta (bradicardia), uma vez que, quando o coração diminui a sua frequência abaixo de um determinado valor, o pacemaker começa a emitir impulsos elétricos. 
 
Ainda em casos excepcionais, pode utilizar-se um pacemaker para enviar uma série de impulsos que detenham um ritmo anormalmente rápido do coração (taquicardia) e diminuir assim a sua velocidade. 
 
Este método denomina-se por cardioversão, eletroversão ou desfibrilhação. Nos casos potencialmente mortais, aplicam-se pequenos dispositivos, que detetam de forma automática as arritmias que podem ser mortais e emitem uma descarga. 
 
Estes dispositivos são implantados em pessoas que, de outro modo, poderiam morrer se o seu coração parasse repentinamente. Como estes desfibrilhadores não previnem as arritmias, estas pessoas tomam também fármacos antiarrítmicos ao mesmo tempo. 
 
É também de anotar que, alguns tipos de arritmias se corrigem através de intervenções cirúrgicas e outros procedimentos invasivos. 
 
Tenha em conta que este artigo é meramente informativo e tem o intuito de despertar para eventuais anomalias que devem ser avaliadas por um médico cardiologista aquando ocorram episódios que assim o justifiquem.