O mundo tem conhecido um novo ritmo de vida após o surgimento do Coronavírus.
As medidas de isolamento e distanciamento social são importantes para evitar a propagação da doença e todos os dados o comprovam, contudo, temos de ter em conta o impacto psicológico que as mesmas estão a ter nas populações para que melhor se lide com a situação e agilizem os apoios necessários para fazer face a esta nova realidade.
É importante sublinhar os últimos dados, já que são eles que nos pernoitem conhecer a realidade e enfrentá-la da melhor forma e, acima de tudo, recorrer a fontes credíveis para evitar o excesso de informação inútil. Neste sentido, é essencial reter que, desde que as autoridades chinesas decidiram colocar a região de Hubei em quarentena, várias cidades e até países inteiros decidiram que a melhor maneira de impedir a propagação do vírus era forçar as pessoas a ficarem em casa. Como consequência desse confinamento está o impacto social e psicológico nocivo. Na China, por exemplo, as autoridades registaram um aumento nos índices de violência doméstica nas regiões onde as pessoas foram proibidas de sair de casa. O número de casos de divórcio também está em alta no país, sem esquecer as pessoas que procuram apoio psicológico afim de encontrarem um pouco de conforto e uma palavra que lhes permita ganhar mais força para enfrentar esta fase complicada.
Para o professor de psiquiatria e colaborar da Organização Mundial de Saúde,“Quando estamos confinados, perdemos a nossa rotina, reduzimos a nossa atividade física e, em caso de quarentena, as pessoas podem ser vítimas de stress pós-traumático, irritabilidade, angústia e insónia”. Segundo Chee Ng, “O confinamento gera um sentimento de incerteza, de tédio e de solidão. E quanto mais longo, mais importantes são as repercussões na saúde mental”.
Para este professor de psiquiatria da universidade de Melbourne e colaborador da Organização Mundial da Saúde (OMS), é fundamental estar atento aos estudos que nos mostram que a solidão provocada pela falta de vida social também pode provocar uma elevação no organismo dos índices de cortisol, o hormónio do stress, e que esse aumento também representa um risco para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares, sem esquecer a depressão e a obesidade.
Perante esta realidade, percebe-se que, o mundo atravessa mais um problema, pois para além de ter de forçar as pessoas a estarem em casa como forma de contenção da Covid-19, terão ao mesmo tempo, de suportar este sofrimento psicológico, uma vez que, esta doença não conhece fronteiras e está a devastar e a chegar a todos os pontos do globo a uma velocidade impressionante.
Para além do imperativo de ter de estar em casa, os especialistas estão a confrontar-se com os relatos de solidão feitos por parte das pessoas que estão confinadas no seu domicílio. Contrariamente ao que se poderia pensar, a Internet e as redes sociais não estão a conseguir ultrapassar o contacto presencial entre pessoas e, o excesso de informação e, muitas vezes falsa, está a aumentar os níveis de ansiedade e de stress por parte dos seus utilizadores. Neste sentido, a China está cada vez mais a recorrer ao apoio psicológico, aos divórcios e a revelar um aumento nos casos de violência doméstica devido precisamente ao aumento dos níveis de irritabilidade, de solidão e de isolamento das pessoas obrigadas a estar em conjunto nas quatro paredes durante tempos acima do normal e do que fazia parte das suas rotinas.
O assunto começa a preocupar os especialistas, muito além dos países que decretaram o confinamento. “Entramos num novo período de sofrimento social”, alerta Eric Klinenberg, sociólogo da Universidade de Nova York em entrevista ao site Vox. “Haverá um nível de sofrimento social relacionado ao isolamento e ao custo do distanciamento social que poucas pessoas estão discutindo por enquanto”, pontua.
Além disso, ao contrário do que se pode pensar, estar conectado via internet não significa necessariamente que o isolamento é menor. “Poderíamos imaginar que o acesso às redes sociais ajudaria a nos sentirmos menos sozinhos durante as crises. No entanto, as pessoas confinadas têm acesso a um volume muito grande de notícias que nem sempre são verdadeiras. E ainda não sabemos se todas essas informações podem agravar ou não o impacto psicológico do confinamento”, alerta o professor Chee Ng.
Esse fluxo de informações que provocam ansiedade já é designado pela OMS como infodemia. E como ressalta o professor de psiquiatria da universidade de Melbourne, durante a epidemia de Sras, em 2003, as redes sociais ainda eram balbuciantes, o que faz da pandemia de COVID-19 um fenómeno inédito, cujas consequências para a saúde mental da população ainda são desconhecidas.
Para facilitar a vida dentro de casa é fundamental a compreensão, uma boa comunicação e entendimento. Todos precisam de compreender que se trata de uma fase duradoura, mas que tem o propósito de proteção individual e de outrem, pelo que faz sentido ocupar o tempo da melhor forma possível, como por exemplo, fazer aquilo para o qual normalmente não se tinha tempo na vida agitada que se levava anteriormente.
Os pais podem dar mais atenção aos filhos, mais apoio escolar, ouvir música em conjunto, ler mais histórias, criar novas rotinas, novas brincadeiras e reduzir o tempo de ligação aos ecrãs.
É fundamental manter os hábitos de arrumação da casa, de se vestirem diariamente, de manterem os horários das refeições e até adiar um pouco o horário dos despertadores, pois não precisamos de nos levantar tão cedo, ainda que tenhamos de nos organizar.
Podemos aproveitar um espaço da casa para fazer diariamente alguns exercícios leves, procurar alimentar-nos de forma mais leve e saudável, uma vez que fazemos menos exercício físico, ler aquele livro que há muito tempo esperava um tempo e uma oportunidade, fazer arrumações de gavetas e limpezas mais a fundo na casa.
Forçosamente temos de procurar formas criativas de ocupar o tempo e evitar estar ligados às notícias todo o dia. Optemos por fazê-lo apenas durante alguns momentos importantes do dia onde poderemos saber o que se está a passar no nosso país e no mundo, já que isso também é muito importante para nos posicionarmos, vermos as notícias da nossa terra nos jornais locais, mas reservar a maior parte do tempo para fazer outras tarefas. Temos de ser muito criativos e perceber muito bem a importância de dar o nosso contributo na contenção deste vírus. Falar abertamente sobre o assunto é fundamental, mas reservar a maior parte do tempo para realizar outras atividades em casa é imperioso para proteger a nossa saúde mental.
Muitos entendidos na matéria acreditam que, após esta fase, as pessoas não terão qualquer problema em retomar as suas vidas de forma normal e regressar às suas rotinas, mas é preciso muita tolerância e compreensão para evitar os danos nocivos apontados acima.