O Algarve Primeiro falou com Vítor Neto, Presidente do Nera – Associação Empresarial do Algarve, com vista a recolher a opinião deste responsável acerca do estado da saúde na região.
Tem vindo a público uma realidade que coloca o Algarve num plano delicado do ponto de vista da saúde devido à falta de médicos e ao encerramento de alguns serviços em datas em que as escalas de serviço assim o exigem pela falta de profissionais, sem esquecer que “os concursos ficam desertos” porque os médicos não concorrem às vagas disponíveis. Para Vítor Neto, «tem havido uma subestimação do peso que o Algarve e o Turismo assumem na economia do país».
O ex-Secretário de Estado do Turismo realça que, «é um erro político tratar com tanta ligeireza os problemas graves que se estão a passar no Algarve. Trata-se de uma região que gera muita riqueza para o país e que se vê confrontada com estes problemas da saúde e que se arrastam, tal como a mobilidade, em que a melhoria dos transportes continuam sem fim à vista».
Enumerando também o problema que se mantém na EN 125, a eletrificação da rede ferroviária que se arrasta há anos, a Via do Infante e a falta de articulação entre os vários meios de transporte que continuam a dar um sinal de que temos de fazer alguma coisa», Vítor Neto aventa que, «passam milhões de pessoas por esta região e nós temos um conjunto de estruturas que não funcionam».
Este responsável não tem dúvidas de que, «a responsabilidade é dos algarvios que aceitam que a sua região não tenha peso político junto do poder central e, este trata o Algarve como se fosse uma região qualquer; sem importância política».
Para este rosto socialista, «o poder central dá-se ao luxo de não vir cá muitas vezes, o que me leva a afirmar que é uma questão de peso político».
Para que se perceba a dimensão do peso do Algarve no PIB nacional, Vítor Neto clarifica que, «se a região fosse ao fundo, isso teria consequências na economia nacional, mas como os algarvios aceitam, os políticos em Lisboa nem ligam ao Algarve».
Ao longo dos séculos, o Algarve sempre foi uma região discriminada pelo poder central. Para além de ter sido a última região onde chegou o caminho de ferro, o Rei nem sequer veio à inauguração, recupera o mesmo responsável, mostrando que temos uma história que evidencia muito bem o quanto o Algarve foi ficando sempre para trás ao longo dos tempos «e assim permanece porque os algarvios não exigem mais e melhor para a sua região e vão aceitando a situação década após década».
A autoestrada chegou a Paderne em 2002, «37 anos depois de ter arrancado em Lisboa… é por isso que eu sou defensor da regionalização».
Apologista de uma regionalização que tenha uma visão integrada do Algarve, que tenha um projeto estratégico de desenvolvimento e instrumentos políticos que «nos permitam ser uma região administrativa com poderes específicos, é uma solução para os nossos problemas, onde se inclui a saúde e tudo o que lhe está interligado».
Vítor Neto entende que, «não precisa de ser uma região autónoma, mas também não é descentralização. Tem que ser uma regionalização que disponha de instrumentos para poder utilizar e intervir de forma estrutural».
Para este emblemático empresário dos frutos secos na região, «não podemos continuar a aceitar que os recursos do Algarve vão todos para outras zonas do país e que depois, o Sr. Ministro das Finanças nos venha dizer que não há mais dinheiro para nós, a responsabilidade é dos algarvios e o poder central vê isto como uma situação cómoda».
Este empresário não tem dúvidas de que, «se houver uma crise global ou mesmo nacional, a região que vai resistir melhor é o Algarve porque dispõe de recursos específicos que lhe permitem a subsistência. Tem sido assim ao longo de séculos. O Algarve resistiu sempre porque produzia produtos da terra, tem produtos do mar e vendia e exportava essencialmente figos».
«Eu fui secretário de Estado do setor há 20 anos e, o Turismo tem vindo a crescer; tem fases de conjuntura em que pode não crescer, mas o Turismo no Algarve é uma atividade sustentável e, continuamos a ser a maior região turística do país, por tudo isto, penso que temos de pensar mais na nossa região, nos recursos que temos e aproveitá-los da melhor forma», solucionou Vítor Neto.