Família

“Damos o que temos e o que somos”

 
Esta é uma expressão já muito defendida e conhecida no domínio das ciências, na medida em que cada vez se sabe mais acerca do comportamento humano e das implicações deste entre pais e filhos.

 
Para além da herança genética, sabe-se que os pais dão os filhos os seus valores, a sua forma de encarar a vida, as pessoas e as situações, pelo que, não é de admirar que se diga que os filhos são aquilo que recebem de casa para depois poderem receber o que lhes é disponibilizado pela sociedade.
 
Um recente estudo levado a cabo numa universidade norte-americana vem precisamente reforçar esta ideia, mostrando que, 91% do stress analisado nas crianças de hoje, é proveniente dos seus pais, o que ilustra como o modo de vida dos progenitores é uma forte influência na qualidade de vida dos mais novos.
 
Perante estes dados, os investigadores são unânimes em afirmar que, muito mais que repreender as crianças pelos seus comportamentos, é fundamental ir à causa, ou seja, sinalizar aquilo que pode estar a dar lugar a esse estado de ansiedade.
 
Muitos pais já se esqueceram de que foram crianças, jovens e adolescentes, já colocaram de parte as necessidades que sentiam quando eram mais novos para poderem fazer melhor, porque muito mais que viver a alegria de colocar um filho no mundo, deve ser avaliada a qualidade de vida que lhes é dada.
 
Essa qualidade de vida depende da harmonia que se vive dentro do casal, tal como está interligada à gestão de horários, à forma como se ocupa o tempo livre com os mais novos e à noção de que as crianças precisam de tempo de qualidade com os seus pais.
 
Os pais são o principal alicerce no desenvolvimento de uma criança. Quando estes estão seguros e tranquilos, conseguem educar com razão e coração que é sempre a forma mais equilibrada de dar e receber, de ensinar, de mostrar afeto e demonstrar o quanto uma criança tem o direito de ser feliz com aqueles que decidiram dar-lhe o direito à vida.
 
Quando falta esta consciência, tudo se confunde. O trabalho e a carreira assumem o lugar da família, os tempos livres dos mais novos são puramente ocupados entre pares e em sucessivas atividades, porque se considera que a criança deve estar em estado de aprendizagem e alerta durante todo o tempo em que está acordada.
 
Na realidade não é assim. A educação, tal como qualquer outra área de vida, precisa de equilíbrios, precisa de vazio; de estar sem fazer nada, de relaxar, de estar somente a brincar e a descobrir o mundo na primeira pessoa. Ora com tão poucos tempos livres para descontrair, naturalmente que as crianças entram em stress e elevados níveis de ansiedade.
 
Os pais ansiosos são a base dos filhos ansiosos, precisamente porque damos aquilo que somos e o que temos, pelo que vale a pena reformular, é urgente refletir sobre estas questões e organizar mais e melhor o tempo da família para que possam estar juntos sem o relógio sempre a ditar as regras e a ordem do dia. Faz bem estar na praia sem relógio e telemóvel, tal como é salutar esquecer o mundo nos tempos livres e desfrutar das emoções em família, pois o stress é a principal causa de doença mental do nosso século.
 
Fátima Fernandes